Beto Figueiredo

July 12, 2025

O Sentido da Vida

"Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como." — Friedrich Nietzsche

🇺🇸 Versão em inglês

Há algumas semanas, assisti um documentário sobre saúde mental nos esportes radicais (aqui). A história seguia um kite surfer americano bem-sucedido — patrocínios, viagens, a tal "vida dos sonhos" que alimenta os feeds do Instagram. Mas então, um dia, os ataques de pânico e a depressão chegaram. O documentário é interessante, mas toca apenas a superfície de algo muito mais profundo.

A Ilusão do Prazer

Logo aos seis minutos, o atleta lamenta como seu esporte favorito se transformou em trabalho: "Agora você tem que performar, não pode simplesmente curtir. Mas a vida deveria ser sobre isso, apenas aproveitar o processo."

Aqui mora o problema. A vida não se resume a isso.

Como G.K. Chesterton observou sabiamente: uma sociedade que só se diverte não se divertirá por muito tempo. É uma verdade que corta fundo. Quando vivemos apenas para o prazer, construímos castelos de areia. As conquistas verdadeiras exigem sacrifício — e é precisamente no sacrifício que encontramos significado.

Todos conhecemos a sensação boa de começar algo novo. É excitante, divertido. Mas com o tempo, as coisas começam a ficar difíceis. Se você realmente quer construir algo verdadeiro, precisa persistir quando a diversão acaba.

Pressão

Em outro trecho do documentário, o atleta menciona a pressão dos patrocinadores. Isso me lembrou de uma história que Shaquille O'Neal contou sobre seu pai. Após uma derrota contra os Knicks, Shaq recebeu uma ligação: "Apareça na minha casa às 5h da manhã."

O pai o levou para um passeio de carro até pararem perto de um viaduto, onde uma família de moradores de rua vivia em uma barraca improvisada.

"O que aconteceu no jogo ontem?", perguntou o pai.

"Senti a pressão", respondeu Shaq.

Nesse momento, o pai aponta para a família: "Isso é pressão. Perder um jogo onde, mesmo após a derrota, você receberá seu salário milionário, não é pressão. Não saber se você conseguirá alimentar seus filhos — isso é pressão."

Pressão real não vem de expectativas sobre nós mesmos, mas de responsabilidades para com os outros.

Propósito Além de Si Mesmo

Tudo isso me fez pensar em dois outros atletas: o surfista Adriano de Souza e o lutador de jiu-jitsu Gutemberg Pereira. Em uma conversa recente, quando perguntado sobre seus sonhos e objetivos, Gutemberg respondeu que seu maior sonho já havia sido realizado. Surpreendentemente, não era um título mundial ou reconhecimento profissional, mas algo muito mais profundo: "Comprei uma casa para minha mãe."

Adriano expressou algo semelhante. Após vencer uma etapa do tour mundial, quando questionado sobre o que faria com o prêmio, mencionou ter realizado seu sonho de dar uma casa à sua mãe.

Por que esses homens não sucumbem à depressão? Por que permanecem firmes enquanto outros, com muito mais recursos e liberdade, desmoronam?

A diferença é que eles assumiram responsabilidades que transcendem seus próprios interesses. Todos nós necessitamos desse tipo de propósito. O problema fundamental da busca pela mera felicidade é sua fragilidade — quando as tempestades da vida aparecem, a felicidade vai embora. Precisamos de algo mais profundo. São as responsabilidades que assumimos perante os outros que nos fornecem a força para superar adversidades.

A Força do Sacrifício

O kite surfer do documentário estava perdido porque tinha apenas a si mesmo como referência. Sem um "por que" que justificasse o esforço, cada dificuldade se tornava insuportável. Quando você vive apenas para si, cada obstáculo é uma afronta pessoal.

Acredito profundamente no conceito de dever. Vivemos em uma sociedade obcecada por direitos, mas que frequentemente negligencia seus deveres. Discutimos extensivamente sobre o que gostamos ou queremos fazer, mas raramente sobre o que devemos fazer.

Mas como identificar nossos deveres verdadeiros? Refletindo sobre essa questão, percebi que a pergunta estava mal formulada desde o início. O ponto crucial não é "por que" fazemos algo, mas "por quem" o fazemos.

Nietzsche estava certo, mas eu acrescentaria: o porquê mais poderoso não é um conceito abstrato, é uma pessoa concreta. É a mãe que precisa da casa, o filho que precisa do pai, a esposa que precisa do marido. Quando temos por quem lutar, cada obstáculo se torna um teste de caráter. O sacrifício deixa de ser sofrimento para se tornar propósito.

O sentido da vida não está em ser feliz. Está em ser útil a alguém que importa mais que você mesmo.

Isso é ilustrado perfeitamente em um episódio de Os Simpsons. Homer trabalhava na usina nuclear e odiava profundamente seu emprego. Quando finalmente conseguiu economizar dinheiro suficiente, decidiu realizar seu sonho de deixar a usina e trabalhar em um boliche, onde se sentia verdadeiramente feliz.

No entanto, a felicidade durou pouco. Marge descobriu que estava grávida novamente, o que significava que a família precisaria de mais dinheiro e estabilidade financeira. Relutantemente, Homer foi obrigado a deixar o emprego dos sonhos no boliche e retornar para a detestada usina nuclear para sustentar a família em crescimento.

Ao final do episódio, Homer está feliz com sua família, e seus filhos perguntam: se ele está tão feliz com a nova filha, por que não tem nenhuma foto dela? O final precisa ser assistido para ser compreendido completamente.

Aqui tem uma versão resumida de 3 minutos. Assista, vale a pena: https://www.youtube.com/watch?v=x2mS3uDqQL4&ab_channel=ThingsICantFindOtherwise

#life
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